EDITORIAL


Abril de 2015

A história da Radioterapia Brasileira passa por Minas Gerais, pois foi, sem dúvida, na capital Belo Horizonte, que surgiu a primeira instituição hospitalar totalmente dedicada ao tratamento do câncer.

Graças à iniciativa pioneira e ao empenho incansável do então diretor da Faculdade de Medicina, Dr. Eduardo Borges da Costa, iniciou-se, em 1919, movimento junto ao então governador do Estado Arthur Bernardes, com o fim de obter dele a construção de um hospital especializado no tratamento do câncer. O governador, sensibilizado, determinou a construção do Instituto do Radium, que veio a ser inaugurado em 1922, com plenas condições de funcionamento, dotado já de recursos humanos e materiais. Foi seu primeiro diretor o próprio Dr. Borges da Costa.

Para condução dos trabalhos, Borges da Costa recrutou, dentre os mais conhecidos profissionais da medicina, uma equipe de notáveis, entre os quais se contam Carlos Pinheiro Chagas (primo de Carlos Ribeiro Chagas), Baeta Viana, Luiz Adelmo Lodi, Oromar Moreira e Mário Pena, dentre outros. 

Em 1923 uma equipe do Instituto do Radium representou o Brasil, em Paris, em evento comemorativo do centenário de nascimento de Louis Pasteur, e, em 17 de agosto de 1926, o Instituto recebeu a visita ilustre de Marie Curie e sua filha Irène Curie, que foram recepcionadas por comissão formada pelos professores Baeta Viana, Mário Pena e Carlos Chagas.

No dia 18 de agosto, Madame Curie proferiu, na Faculdade de Medicina, conferência sobre a radioatividade e suas aplicações na medicina. Muitos estudantes tiveram o privilégio de ouvi-la, entre eles Pedro Nava, Pedro Sales, Juscelino Kubitschek, Amílcar Viana Martins e João Guimarães Rosa. Na ocasião, as visitantes assinaram o livro de registro de visitas e foram fotografadas ao lado de Borges da Costa, Carlos Chagas, Baeta Viana e Adelmo Lodi.

A partir de 1930, outros serviços de radioterapia profunda foram instalados, em Belo Horizonte, destacando-se os doutores José Ferolla, Armando Greco, Pedro Batista, Antônio do Monte Furtado Neto, Jaime Werneck.

Em 1950, O Instituto do Radium passou a chamar-se Instituto Borges da Costa, em homenagem a seu fundador e primeiro diretor. Em 1967, foi incorporado ao patrimônio da UFMG.

Nos anos de 1960, foi instalada a primeira bomba de cobalto no Hospital Sarah Kubitschek, um gamatron I, seguida de um gamatron II, em 1969, para a Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, ambas obtidas com recursos da DNC – Divisão Nacional de Câncer.

Em 1971, Fausto Mafra Neto, estudante de Física no Instituto de Ciências Exatas da UFMG, foi aceito como bolsista para os primeiros estudos de Física Médica em Radioterapia no já então denominado Hospital Borges da Costa, agora como unidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da UFMG. Nessa ocasião o referido acadêmico conviveu com a equipe herdeira dos fundadores do Instituto do Radium, destacando-se os professores Oswaldo Borges da Costa, Paulo Adelmo Lodi, Antônio Otaviano de Almeida, Rogério Meireles e João Resende Alves, o então Diretor.

Hoje, o serviço de radioterapia conta, em Belo Horizonte, com cerca de sete centros de tratamento e que, em todo o Estado, chegam a mais de 30.

Sob a liderança persistente do Dr. Miguel Torres Teixeira Leite e com a incorporação de dois novos radioterapeutas, Arnoldo Mafra e Marcus Simöes Castilho, foi iniciado, no Instituto de Radioterapia São Francisco, um programa de natureza acadêmica, constante de encontro semanal, logo enriquecido com profissionais de outras instituições. Daí e a exemplo do que já acontecia em São Paulo em 2009, o grupo então formado partiu para um encontro dos profissionais da Radioterapia de Belo Horizonte, a realizar-se a cada bimestre ou trimestre, em ambiente neutro, como restaurante ou espaço semelhante, capaz de acolher um evento dessa natureza.

O primeiro encontro aconteceu na Pizzaria 68, bairro de Lourdes, em Belo Horizonte, em 24 de novembro de 2009. Na ocasião, apresentaram comunicação acadêmica o Dr. Miguel Torres, com o tema Delimitação do CTV no pós operatório de neoplasia de próstata, e o Dr. André Irmer, Físico da Radioterapia do Hospital Mater Dei, com o tema Próstata operada: comparação CONFORMACIONAL x IMRT.

Hoje, correndo o ano de 2015, um fato chama atenção: falta registro do que se vem produzindo nesses anos, tanto do que respeita aos centros ou clínicas de radioterapia, quanto do conhecimento científico produzido pelos profissionais – Físicos e Médicos – da Medicina Radioterápica. Tal fato pode dar a impressão de que, sobre a função de divulgar o conhecimento e formar os profissionais do futuro, predomina o prazer do próprio encontro, com o bom relacionamento dos profissionais. Mas isso não é verdade. A preocupação maior dos participantes é divulgar o conhecimento, confrontar experiências e expandir a órbita do movimento.

O que se procura, então, é, em primeiro lugar, tirar o movimento da informalidade, com a criação, mesmo que no futuro, de uma Instituição Mineira de Radioterapia, e, como corolário, estender o encontro a todos os militantes do Estado de Minas Gerais. Em segundo lugar, encontrar o instrumento adequado para divulgação do conhecimento, tal como o jornal ou a revista.

Como a hipótese de divulgação em suporte impresso parece momentaneamente menos indicada, por razões facilmente aceitas, prevalece a opção pela revista eletrônica, suporte de fácil manejo, custos favoráveis e acesso rápido, tanto para quem publica quanto para quem consulta.

Daí poder-se proclamar que acaba de nascer a revista Radioterapia Mineira, uma publicação independente (até que possa ter vínculo institucional), destinada a divulgar conteúdos relativos à Radioterapia e à Física Médica em Minas Gerais.